Faça aqui a sua pesquisa...

Prós e contras das vacinas Covid-19 em crianças e adolescentes

Após os avanços na vacinação em faixas etárias mais velhas, deveremos começar a administrar também vacinas Covid-19 em crianças e jovens? Conheça os argumentos a favor e contra.

21 Jul, 2021
7 min de leitura

Alemanha, França, Canadá e Estados Unidos já começaram vacinar adolescentes com mais de 12 anos. Mas as opiniões sobre esta estratégia não são unânimes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que antes de administrar vacinas Covid-19 em crianças é crucial fazer chegar as vacinas aos países mais pobres e garantir que os grupos prioritários – profissionais de saúde, idosos e pessoas com determinadas patologias – sejam vacinados. O objetivo? Salvar vidas.

Depois de alguns obstáculos iniciais, a vacinação contra a Covid-19 na União Europeia segue, atualmente, a um ritmo mais acelerado. Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), a 14 de junho já tinham sido administradas 300 milhões de vacinas em toda a Europa. Contas feitas, mais de 53% da população da União Europeia recebeu pelo menos uma dose da vacina. Com a maioria da população mais idosa imunizada – a mais vulnerável às consequências da doença – as atenções centram-se agora nas faixas etárias mais novas. O que faz surgir a dúvida: deverão os adolescentes e as crianças ser, ou não, vacinados? A resposta a esta pergunta não é linear e está longe de ser consensual entre a comunidade científica, sobretudo por questões de acesso global à vacinação.

As vacinas contra a Covid-19 são eficazes nas crianças e adolescentes?

Quando, no ano passado, as primeiras vacinas contra a Covid-19 foram anunciadas e os países começaram a desenhar os seus planos, a vacinação das crianças não estava contemplada: “Não há dados suficientes para recomendar a vacinação de crianças e grávidas”, referia o Plano de Vacinação Covid-19 de Portugal, divulgado a 3 de dezembro de 2020. O facto de os primeiros ensaios clínicos terem incidido sobre pessoas acima dos 16/18 anos, tornava difícil a tarefa de avaliar a eficácia das vacinas Covid-19 em crianças e adolescentes.

 

No entanto, nos últimos meses, muito se avançou na investigação dos efeitos das vacinas Covid-19 em crianças e jovens. Em maio, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) deu luz verde para a administração da vacina da Pfizer-BioNTech (Comirnaty) para adolescentes entre os 12 e os 15 anos (a vacina já tinha autorização para ser administrada nos jovens com mais de 16 anos). Na base desta decisão, estiveram os resultados de uma investigação sobre os efeitos desta vacina, que envolveu 2.260 participantes entre os 12 e os 15 anos. O estudo mostrou que a resposta imunitária atingida nesta faixa etária foi comparável à registada pelos jovens entre os 16 e os 25 anos. “Neste estudo, a vacina foi 100% eficaz na prevenção da Covid-19, embora a taxa real possa estar entre os 75% e os 100%”, é possível ler-se no comunicado da EMA.

De igual forma, os efeitos secundários da vacina mais sentidos pelos adolescentes entre os 12 e os 15 anos foram semelhantes aos identificados nos jovens acima dos 16 anos. Entre os sintomas registados incluem-se dor no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, dores musculares e articulares e febre, que melhoraram alguns dias após a vacinação.

 

Além da Pfizer-BioNTech, também a Moderna desenvolveu um estudo nos EUA com 3.732 participantes entre os 12 e os 17 anos. As conclusões mostraram que a vacina é “altamente eficaz para prevenir a Covid-19 nos adolescentes” e, na sequência destes resultados, a Moderna (Spikevax) já submeteu junto da EMA o pedido de autorização condicional para poder administrá-la a adolescentes na UE, nesta faixa etária. Quer a Moderna, quer a Pfizer estão já a testar as suas vacinas Covid-19 em crianças com idade inferior a 12 anos.

Vacinas Covid-19 em crianças e adolescentes? A decisão cabe a cada país

Do outro lado do Atlântico, o movimento de imunizar as crianças e adolescentes contra a Covid-19 iniciou-se há mais tempo. Países como o Canadá e os Estados Unidos vacinaram milhões de crianças e jovens desde o início de maio.

Com a avaliação da EMA, cabe agora às autoridades de cada Estado-Membro decidir se avançam com a vacinação dos mais novos. Portugal ainda não tomou uma posição final sobre esta questão, mas a Ministra da Saúde admitiu recentemente a possibilidade de começar a vacinar a população mais jovem, no final do mês de agosto.

 

Outros países europeus já avançaram com a inoculação de adolescentes. É o caso da Alemanha, que começou a vacinação a partir dos 12 anos e quer garantir que, até ao final de agosto, todos os jovens entre os 12 e os 18 anos estão vacinados. O mesmo acontece em países como a França e a Itália. Também no Reino Unido, o regulador já deu o seu aval para a vacinação dos adolescentes.

 

Embora as crianças e adolescentes sejam menos afetados pela Covid-19 e desenvolvam menos sintomas do que os adultos, podem ser infetados pelo SARS-CoV-2 e transmitir o vírus a outras pessoas. Na verdade, tendo as escolas um papel relevante na transmissão do vírus, muitos países estão numa verdadeira corrida contra o tempo para vacinarem as suas crianças e adolescentes antes do início do próximo ano letivo. Um relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) alerta que, quando as escolas reabrirem para o próximo ano letivo, as crianças e adolescentes serão o grupo etário com a cobertura de vacinação mais baixa na União Europeia. Este facto poderá conduzir à circulação concentrada do vírus neste grupo etário, se não forem tomadas medidas eficazes.

O outro lado da vacinação das crianças

A posição da Organização Mundial da Saúde sobre este tema é clara e peremptória: vacinar crianças não é o mais prioritário neste momento.

Embora os estudos realizados até ao momento confirmem que a vacina contra a Covid-19 é segura e eficaz nos adolescentes, nem todos os especialistas concordam com a adoção desta estratégia numa altura em que muitos países – principalmente os mais desfavorecidos – enfrentam problemas graves no acesso igualitário às vacinas. Estamos assim perante um dilema ético.

 

Numa sessão online de perguntas e respostas, Kate O’Brien, diretora e especialista em vacinas da Organização Mundial da Saúde sublinhou que “as crianças têm um risco muito baixo de contrair a Covid-19”. E tendo em conta o atual momento em que “o fornecimento de vacinas é insuficiente para todos no mundo, imunizar crianças não é uma prioridade agora”.

 

Para a OMS é crucial garantir que os profissionais de saúde, os idosos e as pessoas com patologias crónicas sejam vacinadas antes das crianças. Essa ambição foi reforçada recentemente pela OMS. “Mais de 10.000 pessoas estão a morrer todos os dias. Estas comunidades precisam de vacinas e precisam delas agora e não no próximo ano”. As palavras são do diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, e surgiram como um novo apelo para que os países ricos repensem os seus planos de vacinação e distribuam mais vacinas para os países mais pobres, no âmbito do programa Covax. De acordo com estatísticas recentes, apenas 0,8% da população dos países mais pobres recebeu uma dose da vacina.

 

Os números comprovam, assim, o enorme fosso entre os países mais desenvolvidos e os Estados mais pobres no acesso às vacinas e que é urgente colmatar para salvar vidas, controlar melhor a circulação do vírus (reduzindo as probabilidades de surgirem novas variantes de preocupação) e, como objetivo último, debelar a epidemia e repor o normal funcionamento da economia global.