Faça aqui a sua pesquisa...

Covid-19 e animais de estimação — cuidados a ter

Certos países optaram por realizar testes à Covid-19 também em animais. Os riscos de transmissão da doença são reduzidos, mas há cuidados que deve ter em conta com o seu animal. Saiba mais sobre a relação entre Covid-19 e animais de estimação.

14 Mai, 2021
8 min de leitura

A Coreia do Sul está a realizar testes gratuitos à Covid-19 para cães e gatos que tenham tido contacto com humanos infetados e apresentem sintomas da doença. Mas qual a relação entre a Covid-19 e os animais de estimação? É caso para preocupação?

Desde fevereiro de 2021 que, na capital da Coreia do Sul, Seul, é possível testar, de forma gratuita, cães e gatos de estimação que estiveram em contacto com humanos infetados. A medida volta a chamar a atenção para o tema da Covid-19 e animais de estimação, que tem gerado várias dúvidas em muitas famílias no atual contexto de pandemia.

O que se sabe sobre Covid-19 e animais de estimação?

 

Desde que o novo coronavírus foi identificado pela primeira vez em humanos na China, no final de 2019, foram detetadas múltiplas situações de animais infetados com o SARS-CoV-2, o vírus causador da Covid-19. Os primeiros casos de transmissão foram conhecidos em março do ano passado em Hong Kong e na Bélgica, em cães e gatos. Desde então, e um pouco por todo o mundo, várias espécies de mamíferos (desde tigres, leopardos, leões, pumas e martas) mostraram-se suscetíveis ao vírus quando foram alvo de uma infeção experimental ou quando estiveram em contacto com humanos infetados.

 

Segundo informações disponíveis no portal da Organização Mundial para a Saúde Animal (OiE, na sigla inglesa), existem evidências científicas de que os animais infetados podem transmitir o vírus a outros animais.

E quanto à transmissão do vírus de animais para humanos?

 

Na verdade, e tendo em conta a informação disponível até ao momento, o risco de os animais transmitirem o SARS-CoV-2 aos humanos é considerado baixo, de acordo com a Associação Mundial de Veterinários de Animais de Companhia (WSAVA, na sigla inglesa).

 

Apesar de cães e gatos poderem ser infetados com o vírus, a Organização Mundial para a Saúde Animal afirma não existirem evidências de que os animais de companhia estejam a desempenhar um papel epidemiológico na disseminação de infeções nos humanos. Mesmo em casos de infeção, são raros os animais que desenvolvem a doença e apresentam sintomas.

 

Por todas estas razões, a Ordem dos Médicos Veterinários sublinha que ter um animal de companhia não é considerado um fator de risco.

 

 

Os animais não têm todos a mesma suscetibilidade a infeções

 

Longe dos animais de companhia, um dos casos em animais que suscitou maiores preocupações junto da comunidade científica foi o aparecimento na Dinamarca de mutações do SARS-CoV-2 em martas. Uma das variantes do vírus detetada nestes animais revelou uma menor sensibilidade aos anticorpos de várias pessoas com histórico de infeção. As investigações indicaram que as martas não só são muito suscetíveis à infeção de Covid-19 como também, em alguns casos, estes animais retransmitiram o vírus para os humanos.

 

Devemo-nos preocupar? Ricardo Parreira, virologista e professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT-NOVA) explica o que está em causa. “Qualquer vírus que infete um animal está sujeito a ver o seu genoma alterado devido à ocorrência de mutações. Portanto, o que acontece nas martas não é nada de extraordinário”. O especialista salienta, contudo, que o SARS-CoV-2 parece ter encontrado nas martas um bom hospedeiro e um bom ambiente para se replicar. E há mutações que podem estar, de facto, associadas a fenómenos que facilitam a manutenção natural deste agente, como é o caso de “uma maior virulência, uma maior transmissibilidade ou a resistência à neutralização por anticorpos”.

 

Enquanto se aprofundam os estudos sobre as mutações do SARS-CoV-2 detetadas nas martas e o seu impacto na transmissão do vírus para os humanos,  existem outras espécies de animais que se mostram resistentes à infeção. De acordo com a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) os resultados preliminares de estudos experimentais de infeção sugerem que as aves e os suínos não são suscetíveis à infeção por SARS-CoV-2.

Depois dos testes, a vacinação em animais?

 

A testagem de animais em Seul foi pioneira, sobretudo por ser gratuita e a à escala da cidade. Mas a possibilidade de realizar testes a animais também existe nos Estados Unidos, à boleia da iniciativa de alguns laboratórios, que pretendem também utilizar este tipo de testes na Europa.

 

Depois do diagnóstico, será a vacinação de animais de companhia o próximo passo? Segundo declarações de William Karesh, vice-presidente executivo para saúde na EcoHealth Alliance, à revista científica Science, essa questão não é prioritária. “Os cães e gatos não têm um papel importante na transmissão da doença a humanos. Por isso não existe a necessidade de uma vacina que garanta a saúde pública”, explica o especialista.

 

A conversa muda de tom quanto à possibilidade de vacinação de outro tipo de animais, nomeadamente, gorilas e chimpanzés, que se revelam suscetíveis à infeção da Covid-19 e cujo material genético é muito próximo dos humanos. Na verdade, em janeiro de 2021, Karen, uma orangotango do Jardim Zoológico de São Diego (EUA), tornou-se na primeira primata do mundo a ser vacinada contra o SARS-CoV-2. Neste momento, há dezenas de jardins zoológicos em todo o mundo em lista de espera para receberem doses da vacina. O objetivo desta medida é proteger diversas espécies em extinção.

Cuidados a ter em conta com o seu animal de companhia

 

Como já foi referido, ter um animal de companhia não é considerado como um fator de risco para a Covid-19. Como tal, deverá continuar a levar o seu cão à rua, cumprindo as medidas de prevenção recomendadas pela Direção-Geral de Saúde, nomeadamente, a manutenção de distância de outras pessoas.

 

Para ajudar as famílias portuguesas a lidar com as dúvidas em relação à Covid-19 e animais de estimação, a Faculdade de Medicina Veterinária, divulgou no ano passado um guia com conselhos. Aqui ficam alguns deles:

 

  • Depois de interagir com os seus animais deve lavar bem as mãos.
  • É recomendável a higienização das patas dos animais após os passeios no exterior.
  • Não deixe os seus animais lamberem-lhe o rosto, nem dormir nas camas das pessoas.
  • Evite contactos com outras pessoas e animais durante os passeios.
  • Ajuste a quantidade de alimentos para que os animais não desenvolvam excesso de peso ou obesidade devido a uma menor atividade.
  • Se precisar levar o seu animal de companhia ao médico veterinário, telefone primeiro ou envie um e-mail antes de ir e cumpra as regras de segurança do Centro de Atendimento Médico-Veterinário que visitar.
  • A Faculdade de Medicina Veterinária lembra ainda que não se devem adiar as primovacinações dos cachorros e dos gatinhos, nem as revacinações dos cães adultos para a leptospirose, leishmaniose, tosse do canil e raiva, nem as revacinações dos gatos adultos de vida semilivre para a leucemia felina.

Covid-19 e animais de estimação: o que deve fazer se um elemento da sua família estiver infetado (ou suspeitar estar)?

 

  • As pessoas que estejam infetadas com Covid-19 devem limitar o contacto com os seus animais de companhia (ou outros). Se possível, deverá ser outro membro da família a cuidar do animal.
  • Caso não seja possível e tiver de cuidar dos seus animais, deve manter boas práticas de higiene e usar uma máscara.
  • De acordo com as indicações da DGAV, os animais pertencentes a pessoas infetadas com a Covid-19 devem ser mantidos o mais possível dentro de casa.
  • Ao cuidar dos animais deverá ter em conta as medidas básicas de higiene. Segundo a OiE, tal inclui lavar as mãos antes e depois de lidar com os animais ou com a sua alimentação. Da mesma forma, deve evitar beijar e receber lambidelas dos animais ou partilhar comida com eles.
  • Tenha em casa alimentos e medicamentos para o seu animal para um período de, pelo menos, 15 dias.

 

O desconhecimento sobre a evolução da Covid-19 suscita, naturalmente, muitas incertezas. Mas o mais importante é continuar a cuidar bem dos seus animais. Afinal, hoje mais do que nunca, os animais de companhia desempenham um papel fundamental no combate à solidão, transmitindo alegria e serenidade. Por todos estes motivos, não os abandone. Em caso de dúvidas sobre como agir, fale com o médico veterinário que acompanha os seus animais.